domingo, 9 de janeiro de 2011

Taverna

            As luzes da taverna agora se apagam. A festa acabou. Tudo é simples e mágico quando se está em espírito festivo, mas um dia essa sensação passa e é preciso tomar o caminho de volta pra casa, um dia é preciso encarar a verdade e descobrir que se pode ser melhor. Melhor não para que os outros sintam orgulho de você, não para que possa exibir seus avanços, algo te chama para outro nível, um convite à redescoberta de si.
            Estava mais escuro e mais tarde do que de costume, ele sentia que estava prestes a tomar uma decisão importante, resolveu desviar o caminho e não ir para casa, não queria voltar ao mesmo lugar de todas as noites, à mesma casa sombria que exalava um odor de indiferença e apatia, mas também não queria mais bebedeira, queria simplesmente vagar pela noite aleatoriamente à mercê de um provável destino.
            Havia uma bela montanha que sempre tinha vontade de ir ver pela manhã, mas que na noite era mais magnética, parecia conter um enigma que o chamava. Resolveu subir a montanha. Estava muito frio, sentia que seu nariz gelava e à medida que se aproximava dela, um pavor do desconhecido tomava conta de si. Os cães latiam ao longe e as luzes da cidade refletiam na montanha iluminada pela lua. Parecia estar em um lugar que não conhecia. O céu não era negro, era prateado. Já deveria ser bem tarde, porém não sentia sono algum, somente um arrepio que lhe percorria a espinha. E em uma fração de segundo já estava lá em cima,
Lá havia uma fenda que dava para uma caverna, era o caminho para o inexplorado. Tinha certeza que ninguém nunca havia pisado ali, era inóspito demais.
            Após percorrer um longo caminho, rodeado por cristais de todas as cores, se deparou com um abismo, Chegara ao abismo de ser. E descobriu, estático, em frente ao abismo não restara nada de vida, seus momentos vividos como grandes aventuras, as noites na taverna, as mulheres, as corridas de cavalo, as estórias que impressionavam os amigos, tinham simplesmente se transformado em nada, na profundidade do abismo, nada daquilo tinha importância.
Ao pular não demorou muito até que caísse em um lago frio e escuro, tremeu de medo ao imaginar o que poderia haver ali,
            Encontrou uma saída e escapou para uma espécie de jardim. Onde serezinhos minúsculos que se pareciam com libélulas e outros insetos conseguiam se comunicar com ele de alguma forma e o levaram até uma árvore seca. Por trás da árvore surgiu uma figura feminina que possuía um martelo e três rochas. Calmamente sentou-se na sua frente e perguntou – Qual pedra será a mais difícil de ser quebrada? – Surpreendido não conseguiu responder.
- Você deve estar achando que provavelmente é a maior – continuou.
- Mas não. A mais difícil é justamente a que parece ser a mais frágil, sabe por que coloquei a pedra intermediária? Para representar a maioria das pessoas. Elas são intermediárias, porque acham que isso é equilíbrio, mas não, enganam-se profundamente e acabam tornando-se tolas e comuns. Não se preocupe você não se encaixa nesse padrão, procure ser o ideal puramente, a pedra pode ser grande, mas sua consistência é frágil, por isso ela destrói facilmente. O estereótipo não engana um bom observador. A pedra menor é a mais resistente, apesar de parecer ser frágil, o longo dos anos fez isso a ela, só a experiência dá consistência.
            Ele seguiu em frente, e se deparou com um buraco e uma aranha.
            A aranha após perceber que estava sendo observada, disse: Você deveria ser como eu, eu tenho apenas a coragem e a mim, eu posso simplesmente saltar dentro desse buraco e não cair, e para isso eu conto simplesmente com a minha teia, que teço no ar em um instante e sozinha, sem precisar de ninguém para salvar-me. Concentre-se apenas em si e pule. Não se importe com a profundidade.
Saltou novamente, Encontrou-se com a morte.

Um comentário:

Bruno disse...
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